]]>

« Home | Olá, porra! »

09 setembro 2005

Eu estou cansado.doc

Eu estou cansado.
O mundo muda ao meu redor. Eu mudo o mundo ao meu redor. O mundo ao meu redor me muda.
Existe um problema básico nessas afirmações, nesses pensamentos... está na definição dos sujeitos. Eu e o mundo. Da forma que está declarado, nós interagimos como dois indivíduos iguais, mais do que o centro do mundo, eu estou fora dele o olhando como um igual nos meus devaneios... acho que atingi um novo nível de egocentrismo com isso.
Mas mais do que egocentrismo, essa definição trás algo diferente... mais do que me achar acima do mundo eu me encontro alheio a ele. Acho que mais do que isso, até... eu me encontro alheio a mim mesmo. E eu acho que essa frase teria de ter uma crase em algum lugar...
Quem se importa? Eu? O Mundo?
Não. Nem um, nem outro, mas muito menos o um. Tanto com a crase quanto o sentimento de aleijamento do mundo (Agradeço a Max Weber o fato de conhecer esse termo) ...
O que acaba de passar na minha cabeça é que eu poderia dar uma de modernista p.i.m.b.a (pseudo-intelectual de merda metido a besta) e falar uma frase como “o que importa é que nada importa. “ ... Renato Russo era o rei dos pimbas nesse sentido. Mas na verdade o que importa é que não me importo. Não com os pimbas... hmm, bem eu não me importo com os pimbas mas não é esse o alvo da minha “não-importação”declarada. Eu não me importo com o mundo. Ou em não fazer parte dele. Ou de me sentir alheio a ele. E esse é o maior problema no momento. Porque eu acho que deveria me importar.
Afinal, é o mundo. Não o boteco do seu Zé da esquina (embora não tenha certeza se o dono do boteco da esquina se chame José, mas no fim todo bar e boteco acaba sendo um “Bar do Zé...) Sendo... isso é um gerúndio e fui ensinado a nunca usar gerúndios em textos a não ser que seja extremamente necessário. E estranhamente com isso eu me importo... o gerúndio é uma preocupação maior que o mundo, e isso é um problema certo? Ou não.
Meu irmão está com uma mania esquisita de acabar quase toda frase dele com “...ou não” ultimamente. É algo ao mesmo tempo irritante e genial, afinal, ele está certo, não? Seguindo a idéia dele eu posso estar pouco me importando com o mundo... ou não... já não seria um problema tão grande assim.
Acho que ainda é um problema de definição. O mundo é um sujeito grande demais para que qualquer um se importe com ele. Existem filósofos que até vêem nele um reflexo ou a presença pura de Deus, acho... acho que Espinosa é um desses... Mas o que seria esse mundo que não me importa? Seria Deus? ...Acho que não. Deus é algo bem definido na minha cabeça. Algo ruim por sinal. Mas o filho dele é joinha, até usa o banheiro aqui de casa de vez em quando... (longa história que envolve minha irmã e pessoas não identificadas utilizando o banheiro aqui de casa...). Eu sou um fã de Jesus de qualquer forma... tanto como um fã de Bob Esponja, alias...Bem, voltando ao mundo... eu não acho que seja a Terra... pq, de um tempo pra cá eu não vejo mais ela como um ser vivo, ao menos não um ser vivo com o qual eu goste de conversar... Também não poderia ser todas as pessoas que vivem na Terra... afinal, eu nem as conheço, embora ache que ficaria feliz de conhecer uma boa parte. Devem ser amigos, irmãos, irmãs, namoradas, pais, mães, crianças, filhos, filhas, empregados, empregadores e o caralho a quatro super legais. Fugindo de novo do assunto, esses dias eu e meus irmãos tivemos uma discussão sobre qual seria a definição exata da expressão “caralho a quatro”... meu irmão mais novo achava que era uma categoria de pessoas (“Aquele cara é um caralho a quatro.”)... meu outro irmão achava que era uma porção de coisas bem definidas e acordadas entre todos. Algo como o caralho a quatro, por definição mundial incluiria um copo, um garfo, um cavalo e uma pêra. Esquisito. Acho que cada pessoa da terra deve ter sua definição de caralho a quatro... Eu, nesse momento poderia definir o caralho a quatro como o mundo. Sim, o mundo é o caralho a quatro... mas o que seria o caralho a quatro pra mim? Não sei... eu não me importo o suficiente pra definir isso...
Já é um avanço talvez. Eu não me importo o suficiente é muito diferente que “eu não me importo.”. O suficiente indica que eu me importo ao menos um pouco. Os termos são importantes, acho... sempre achei... sou julgado como um chato por isso... mas sempre achei que “uma puta amiga” é diferente de “uma grande amiga”... porque senão houvesse diferença não teria necessidade de existir dois termos diferentes... e realmente espero que ninguém me considere um “puta amigo”, porque, afinal, essa não é uma das minhas funções...
Bem, voltando ao mundo...
Talvez eu fique divagando sobre coisas da minha vida durante a definição por algo que eu já imaginava desde o começo e tinha um pouco de receio de pensar nisso. O mundo para mim são as coisas da minha vida. Sou eu e tudo o mais que faz parte de mim. E ao dizer que o mundo sou eu, a afirmação “eu não me importo com o mundo” significa que eu não me importo comigo mesmo? Não seria surpresa, porque nunca na minha vida eu me preocupei comigo mesmo... minha preocupação básica sempre foi com os outros... que formam minha vida... minha namorada, meus irmãos, minha família, meus amigos... meus gostos, minhas atividades, a história. Ah, a história.
Isso traz um problema mais incomodo ainda a frase que começou esse texto. Não existe temporalidade ali. E isso me incomoda. Eu atualmente não me importo com o mundo. Fica bem melhor, não? Ou... Eu não me importo com o mundo do ano de 2005. Não. Esse escrito fica datado dessa forma... mas caso ele fique atemporal, ele ficaria ahistórico... o que é um problema maior para mim. Existe uma necessidade pras coisas serem históricas... O tempo é complicado. E chato as vezes. Mas trabalhar com ele pode ser delicioso as vezes também... Minha amada/odiada imortal... Estava pensando nisso esses dias. A amada imortal de Beethoven era a música... seria a minha a história? Pretensioso eu pensar isso... muito pretensioso. Com isso eu me importo... Não gostaria de ser chamado de pretensioso por ai... Parece um palavrão. Bem, é um palavrão, onze letras, oras... O problema da definição dos termos novamente. Eu realmente sou chato com isso, mas se estou falando de uma palavra grande, bem ela é grande. Eu também sei que “palavrão” é um termo cuja definição popular é sinônimo de ofensa e é assim que me sinto em relação a pretensão. Parece ofensa. Eu me ofendo que pensem isso de mim. E também me ofendo com a pretensão dos outros. Bem... o que isso tem a ver com o mundo?
Eu novamente sai do mundo, que deveria ser o tema disso. Será que ao mudar tanto de assunto signifique que eu realmente não me importe com o mundo? Não sei. Não me importo. Talvez o mundo não exista no final das contas. Mas eu tenho certeza que existo. Afinal, eu penso. Pouco e raramente, mas penso. E como diria alguém que me fugiu o nome no momento, Penso, logo existo. Mas será que essa definição de existência é suficiente? Será que para alguém existir não é necessário ter sua existência notada pelos demais? Isso definiria que a existência de uma pessoa está intimamente ligada a existência de outras pessoas... Acho que foi Rousseau que definiu que o ser humano é um ser categoricamente social, necessariamente social. Eu concordo, em parte. É a velha charada da arvore caindo. Se ela cair e ninguém ouvir, ela realmente caiu? Seu eu pensei e ninguém ficou sabendo, eu realmente pensei?
Mas o que diabos isso tem a ver com o mundo?
Talvez eu esteja parando de me importar em mostrar meus pensamentos as outras pessoas... E dessa forma deixando de existir ao mundo, me colocando fora dele... talvez porque de trabalho. Dá muito trabalho interagir com outras pessoas... as vezes dá até preguiça. Acho que isso explica muito a timidez, tanto a minha quanto a de outros tímidos. Dá trabalho não ser tímido e as vezes, depois de todo o trabalho você ainda não é aceito ou não escutado... trabalho perdido. Pra que se dar ao trabalho, afinal?
(Mas) Porém, em contrapartida (eu escrevi “mas” no começo de uma frase logo atrás... essa repetição é pior que um gerúndio, talvez volte e escreva porém ali... ), embora não me importe com o mundo, eu gosto dele. Sei que é contraditório, mas... olha o mas de novo... eu gosto da sociabilidade, de mim e do caralho a quatro. Me sinto bem com isso. Mas...Eu estou cansado. (E terminei repetindo exatamente a frase com que comecei o texto. Quem quer que leia isso faça o favor de ao menos esboçar um “oh” ou “que legal”


E-mail this post



Remember me (?)



All personal information that you provide here will be governed by the Privacy Policy of Blogger.com. More...

oh




que legal

Bem Lispectoriano seu texto, cara. Apesar dos devaneios, não cansa ao se ler. O fio condutor não ficou bem claro, mas isso não era exatamente necessário. Só não me escreva sua tese desse jeito...heheh

Add a comment